sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Get Brexit Done!


Boris Johnson arrecadou uma vitória retumbante nas eleições de ontem. A conjuntura, o seu carisma e a falta deste no seu adversário, conjuraram nesse sentido.

Tenho para mim uma boa imagem de Boris, apesar das campanhas negras dos últimos meses que o apresentavam como uma espécie de "Anglo-Trump". Conheço o seu percurso há anos a esta parte e sempre forjei de si uma imagem complementarmente distinta. Educado, culto e ciclista. Uma combinação virtuosa que apenas podiam fazer dele um líder esclarecido e à altura das circunstâncias que o Reino Unido (e a Europa) atravessam. 

Mas, paradoxalmente, trata-se de uma boa e de uma má notícia em simultâneo.

A boa notícia porque fica definitivamente afastado o cenário catastrófico do hard-brexit que não aproveitava, nem ao Reino Unido, nem à União Europeia. Os novos Parlamento e Governo têm agora condições políticas para aplicar o acordo obtido com Bruxelas e salvaguardar os interesses comerciais, os expatriados europeus no Reino Unido e os britânicos na União Europeia e por ultimo, mas não por menos, evita a perigosa questão do backstop e a reposição de uma fronteira física entre as Irlandas.

A má notícia é, evidentemente, a questão escocesa uma vez que o segundo grande vencedor da noite foi o Scotish National Party. Não só somou mais 13 lugares nos Comuns mas, acima de tudo, ganhou uns impressionantes 80% dos mandatos em disputa na Escócia. Nicola Sturgeon, líder do Partido e PM escocesa já se apressou a apontar a frase-resposta ao Get Brexit Done e que se trata do It's time to decide our own Future, ou seja, a exigência de um novo referendo com vista à independência escocesa.

Em resumo, se por um lado o Brexit conhecerá um desenlace positivo, por outro, a sua ressaca pode ter consequências funestas para a unidade do Reino Unido com a inevitável independência escocesa mas também para a UE pelo estímulo que isso representará às causas secessionistas latentes em muitos países.


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

NÓ GÓRDIO ESPANHOL


O resultado eleitoral das eleições espanholas que ontem tiveram lugar (as quartas em quatro anos) vieram tornar a situação ainda mais confusa do que antes como, de resto, a maioria dos analistas vaticinava. Para além de derrotados e vitoriosos (se bem que pírricos) a soma clássica dos blocos esquerda/direita é incapaz de gerar maiorias absolutas. Assim o elemento nacionalista regional torna-se fulcral para, eventualmente, a situação se desbloquear. O problema será a que preço.

O PSOE estagnou e a estratégia de arrastar a situação para novo ato eleitoral revelou-se um tiro pela culatra; o PP subiu mas não consegue vencer; o Vox é, apesar de tudo, o grande vencedor da noite, não só se alcandora como a terceira força política no Congreso de los Diputados como sobe clara e assustadoramente como resposta eleitoral ao clima secessionista catalão e quiçá ao ressuscitar artificial da questão franquista; o Unidas Podemos baixa a sua representação e não consegue mais poder negocial para tentar chegar ao Executivo; o Ciudadanos desce aos infernos da irrelevância parlamentar ao reduzir a um sexto a sua representação parlamentar anterior, não só pelo facto de PP e Vox subirem, como também e sobretudo, pela circunstância de poder ter garantido a estabilidade governativa com o PSOE e ter desperdiçado essa oportunidade.

O mais curioso nisto tudo é que a Espanha, desde os Pactos da Moncloa e da vigência deste quadro constitucional, não tem qualquer experiência de coligações governativas que agora, só serão possíveis ficando reféns dos nacionalistas catalães ou mesmo bascos ou, alternativamente, ao estilo Bloco Central que, como todos sabemos, são consideradas contranatura na Europa do Sul.

Se a tudo isso aliarmos o clima de distúrbios permanentes e quotidianos na Catalunha então a Espanha está com um ambiente algo semelhante ao vivido na sua segunda República, ou seja, perante um nó górdio, cujo Alexandre não se vislumbra bem quem será.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O DECESSO DA GERINGONÇA

É oficial, a Geringonça morreu. Várias ilações se podem tirar. É que, perante a indisponibilidade do PCP, o BE iria ter um peso desmesurado, basta ver o caderno de encargos que Catarina Martins explanou na noite de domingo para se entender que a governação iria ser fortemente condicionada pelo BE.

Costa prefere assim apostar na geometria variável, dividindo para reinar. Se a conjuntura se mantiver de feição tal não será muito dificil. Porém tal comporta riscos que seriam evitados numa "Geringonça 2.0" já que novo acordo formal permitiria um horizonte de estabilidade que se afiguraria como mais resiliente às circunstâncias e às manobras táticas.

Por outro lado, se a Economia for afetada por mau tempo internacional, Costa dificilmente terá margem de manobra negocial com qualquer destes dois Partidos. O reforço parlamentar do PS, nesta XiV legislatura, poderá afinal ser sinónimo de encurtamento da mesma.

O futuro dirá. 

domingo, 29 de setembro de 2019

Seamos realistas, pidamos lo imposible (??)



Esta famosa frase de Ernesto Guevara pode perfeitamente enquadrar os protestos ambientais que tiveram lugar um pouco por todo o lado. Foi a "Greve Mundial pelo Clima".

Esta foi, de resto, a frase mais escutada no Maio de 68 em Paris. Sempre que, agarrada a uma causa justa, há um movimento social, mais ou menos inorgânico, o princípio subjacente a esta frase parece mover as demonstrações e as pessoas.

O ativismo e a dinâmica social são positivos, todavia, a irracionalidade amiúde toma lugar e o "impossível" prevalece sobre o "realista". Em matéria ambiental, tal como, de resto, em muitas outras matérias, o reformismo é sempre preferível à revolução. Se, de modo irrealista, afetarmos a Economia então teremos problemas sociais graves que se sabe como começam mas nunca se sabe como acabam. A disrupção social conduz a becos sem saída e a civilização pode colapsar ou, pelo menos, titubear com graves consequências que, paradoxalmente,  são também elas ambientais e bem mais graves que as que atravessamos.

A prudência demonstra que os problemas devem ser atacados de modo gradualista com metas temporais e moratórias claras e bem definidas, que permitam combater as práticas ambientalmente prejudiciais. Não há outras formas de lidar com este assunto, por muito "sexy" e politicamente corretas que possam parecer as proclamações. Muito menos os voluntarismos bacocos e inqualificáveis como o do recente anúncio de banir a carne de vaca da ementa da cantina da Academia coimbrã conseguem os objetivos a que se propõem. Ao invés geram uma reação contrária e são de um ridículo confrangedor.

A frase deveria ser antes: "sejamos realistas e avançemos inexoravelmente através do possível", ainda que "Che" pudesse discordar. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Magalhães - Elcano "Fast Check"


Fernão de Magalhães partiu na sexta feira passada de há quinhentos anos atrás, 20 de Setembro do ano da graça de 1519 comandando uma armada constituída pelas carracas Trinidad (navio almirante), Concepción, San Antonio, Santiago e Victoria. O feito não é de somenos importância. Os dezoito sobreviventes da expedição, capitaneados após a morte de Magalhães, a 27 de abril de 1521, por Juan Sebastian Elcano, acabaram por regressar ao porto de partida (Sanlucar de Barrameda, na foz do Guadalquivir e daí a Sevilha, a montante naquele rio) em um único navio quase três anos depois completando a primeira circum-navegação à Terra.

Já muita tinta correu, e correrá por estes dias, sobre esta imortal expedição naval que, de modo acidental, ficou para a posteridade como uma das mais importantes, tal como as de Colombo, Gama ou Drake. Como a minha formação académica me impele para estas temas, o acervo escrito disponível e consultado permite-me responder satisfatoriamente a algumas questões, em nome da verdade possível e conhecida.

A primeira é precisamente porque digo "de modo acidental"? Porque a expedição tinha como objetivo completar aquilo que Colombo se tinha proposto anos antes, isto é, alcançar as terras das especiarias navegando para ocidente tendo deparado com uma imensa massa terrestre de permeio (continente americano). A viagem de Colombo esteve na base da definição do meridiano de Tordesilhas entre Espanha e Portugal deixando, a este último reino, toda a Rota das Índias e o acesso pleno ao monopólio das especiarias através do Cabo da Boa Esperança. Até à descoberta da passagem do Estreito de Magalhães entre o Atlântico e o Pacífico esta era a única forma (para além da milenar e inapropriada Rota da Seda) de se alcançar o Oriente.

Esse era, de facto, o objetivo a que Magalhães se comprometeu com o rei Carlos I de Espanha. A circum-navegação acabou por ser fruto das dramáticas circunstâncias que rodearam a viagem e que conheceram de tudo um pouco: tempestades, tentativas de motins, execuções, deserções, fomes, sedes e escorbutos, com a consequente elevada fatura elevada em mortes.

Magalhães, paradoxalmente, não termina a viagem porque morre em combate nas praias de Mactan, Filipinas, mas não deixa de ser o primeiro a circum-navegar. De facto, pela circunstância de ao serviço de D. Manuel I, rei de Portugal, já ter estado antes a oriente da longitude das Filipinas, mais precisamente na Molucas (objetivo da viagem em apreço) fez com que, em duas etapas, ele tenha completado uma circum-navegação.

De resto, a chegada às Filipinas e posteriormente às Molucas, vindo de ocidente revelou-se agridoce. Se, por um lado, representou o completar do objetivo, por outro, embora o cálculo de longitudes, à época, não fosse ainda fiável, podemos concluir (embora especulando) que Magalhães teve a perceção nítida que as ilhas Molucas (fonte do eldorado da noz-moscada e do cravo da Índia) estava dentro da área atribuída a Portugal no Tratado de Tordesilhas e, portanto, o compromisso firmado com Carlos I, nas "Capitulaciones de Valladolid" em 22 de março de 1518 (“… de descubrir en los términos que nos pertenecen y son nuestros en el mar océano, dentro de los límites de nuestra demarcación, yslas y tierras firmes, rricas espeçierías,…”) não poderia ser cumprido legalmente.

Sem embargo, os limites de Tordesilhas foram forçados amiúde por ambos os signatários, fosse no Ocidente, vejam-se os limites do Brasil, fosse no Oriente, com a colonização das Filipinas. Essa pode ser uma explicação para o ênfase de Magalhães em batizar e avassalar os nativos e em se intrometer na politica regional filipina ao afrontar militarmente Lapu-Lapu, datu de Mactan numa refrega quixotesca e irracional onde nem sequer pode usar a superioridade conferida pela artilharia naval contra, de resto, aquilo que estava claramente definido nas referidas "Capitulaciones": “…no descubrais ni hagais cosa en la demarcación e límites del Serenísimo Rey de Portugal…”

O seu único erro na expedição foi-lhe fatal, morrendo sem glória na praia. Coube assim a Elcano liderar o resto da expedição. Perante o desespero e o estado depauperado do que restava da expedição houve que tomar uma decisão racional de pura sobrevivência que, paradoxalmente, conferiu um lugar de destaque na História, fosse a Magalhães, fosse a Elcano: regressar a Espanha pelo Cabo, através de águas atribuídas a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, arriscando a deteção e arresto pelos Portugueses, não sem antes atestar o porão da carraca "Victoria", circunstância que permitiu, apesar de tudo, recuperar com lucro o forte investimento na armada efetuado.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Populismos Messiânicos

Do ponto de vista subliminar não deixa de ser curiosa a capa do DN de hoje, dia 23 de janeiro de 2019.

Independentemente de uma indispensável investigação ao acontecimento que espoletou os incidentes referidos na manchete (refiro-me aos confrontos entre a PSP e alguns moradores do Bairro da Jamaica, Seixal) tem havido uma ofensiva irresponsável, suportada pelo SOS Racismo e o Bloco de Esquerda, visando minar a coesão e a autoridade policiais.

De resto, este Partido, no seu radicalismo (o mesmo será dizer populismo de esquerda) procura hoje, como no passado, reverter os pilares simbólicos e tradicionais da sociedade portuguesa numa antítese, igualmente demagógica, da trilogia "Deus, Pátria e Família" do Estado Novo.

Ora, como todos sabemos, a chegada de forças populistas ao poder em diversos países tem sido também uma reação eleitoral, entre muitos outros aspectos, a uma quebra da autoridade do Estado.

Deste modo, por acidente, ou não, perante a capa do mais antigo diário português, em que a frase "Detidos na Av. da Liberdade tinham antecedentes crimiinais" é encimada por uma fotografia do presidente brasileiro Jair Bolsonaro não deixamos de interrogar-nos se, também em Portugal, este sentimento não contribui para ajudar a trilhar caminhos semelhantes ao de outros países em busca da recuperação do sentimento da autoridade pública perdida. É que se não é assim, até parece e esta postura irresponsável ajuda nesse caminho.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Class Conflict ou o PCP no seu melhor


Quando um cidadão "médio" do centro político discorre sobre o Partido Comunista Português aponta, normalmente, o facto de "discordar das suas ideias" (sobretudo após o colapso da URSS) mas de lhes reconhecer "coerência na ação" (nisso diferenciando-o do BE, por exemplo).
A semana passado tivemos dois bons exemplos disso:
  • O primeiro foi o voto contra o pesar proposto no Parlamento pela morte do empresário Belmiro de Azevedo;
  • O segundo foram as declarações de Arménio Carlos (líder da CGTP e militante destacado do PCP) sobre o resultado do referendo (o segundo) dos trabalhadores da VW Autoeuropa ao pré-acordo negociado entre a Administração e a Comissão de Trabalhadores e que resultou em nova reprovação.
Apenas por falta de memória alguém poderá ficar escandalizado com tudo isto. De facto o PCP está apenas a ser coerente. Afinal, uma das idiossincrasias que se lhe reconhecem.

No primeiro caso não é a inédito que aquele Partido vote contra um pesar (um daqueles votos que tende a ser consensual entre as forças políticas). Sempre que em causa esteja a morte de alguém ligado ao Estado Novo ou um "capitalista explorador" o PCP é coerente e vota contra. Nem a esta lógica escaparam figuras que prestaram provas no regime democrático e que se pensavam acima do rótulo de "fascistas", como foi o caso de Veiga Simão. No caso de Belmiro a coerência voltou a manifestar-se pois este representa o expoente máximo da "exploração capitalista". Alguém que nasceu pobre e "subiu a corda a pulso" para se transformar num dos mais bem sucedidos homens de negócio portugueses e que transformou a Sonae num conglomerado internacional. Trata-se pois do "inimigo de classe" número um.

No caso da VW Autoeuropa é o PCP a CGTP a conseguir levar a água ao seu moinho. Mesmo que isso represente a "atração pelo abismo" que já levou em 2008 a GM na Azambuja a soltar amarras encerrando a fábrica. Não me parece que a VW queira fazer o mesmo em Palmela mas a fábrica pode perder muita da sua relevância e, com isso, postos de trabalho. Parte das exportações nacionais poderão mesmo ficar comprometidas. Afirmar, como o fez Arménio Carlos, que produzir o T-Roc fica muito mais barato em Portugal do que na Alemanha é iludir a realidade. É que, se essa for a lógica, mesmo ao lado da Alemanha ficará ainda mais barato que em Portugal.


Get Brexit Done!

Boris Johnson arrecadou uma vitória retumbante nas eleições de ontem. A conjuntura, o seu carisma e a falta deste no seu adversário, c...