quinta-feira, 13 de julho de 2006

O estado de alma da nação

“Something is rotten in the state of Denmark”

Realizou-se o debate parlamentar anual acerca do “Estado da Nação” mas, para além do quadro sorridente com que o Executivo, de um modo geral, e o primeiro-ministro em particular, pintam a sua governação, o que é certo é que as cores reais são mais carregadas, e presente e futuro se afiguram bem mais sombrios.

Se é certo que a situação político-institucional é hoje desanuviada e estável, não é menos certo que a situação económico-social da maioria dos trabalhadores e do tecido empresarial de pequena e média dimensão está longe de ser saudável, não se vislumbrando, inclusive, que ela possa melhorar no futuro próximo.

No último acto eleitoral legislativo, motivado pela dissolução extemporânea da Assembleia da República, o escrutínio dos votos conferiu, democraticamente, ao PS condições políticas ímpares para governar e executar o seu programa eleitoral. Todavia a primeira medida governamental foi, desde logo, o aumento de impostos, ao arrepio das suas promessas eleitorais.

Infelizmente, o verdadeiro “Estado de Alma” da Nação com quase ano e meio volvido sobre esse acto eleitoral não se compagina com a confiança no presente e no futuro que todos, legitima e patrioticamente, desejaríamos.

Comprovam-no os níveis de confiança, continuamente em baixa, o investimento directo que não arranca, a economia que não descola, não proporcionando, desse modo, emprego e oportunidades e empobrecendo-nos a todos.

Por outro lado, este Governo parece apostado numa estratégia concertada de combate a diversos sectores profissionais, designadamente na Administração Pública, não se inibindo de os menosprezar e tentando, com cumplicidades diversas e inconfessáveis nalguma Comunicação Social, voltar a Opinião Pública contra si.

As associações sindicais do sector são as primeiras a denunciar que nunca foram tão desprezadas desde o 25 de Abril até hoje.

Em lugar de mobilizar para a mudança e as Reformas, o Governo desmotiva os portugueses um a um atacando os seus direitos sociais e denegrindo a sua função profissional. Ninguém escapa a esta voragem injuriosa: professores, médicos, magistrados, polícias, militares...

Por último mas não por menos, a gestão da “coisa pública” está longe de ser exemplar. Como se explica por exemplo que em 2005, em virtude do congelamento de carreiras na Administração Pública, a despesa com pessoal tenha diminuído 4,6%, as receitas tenham aumentado mas, apesar disso a despesa do Estado tenha subido 6%? O que andam a fazer com o dinheiro de todos nós?

No entanto este Primeiro-Ministro, com um ritmo frenético e diário, todos os dias anuncia novos projectos com a criação de milhares de postos de trabalho. São Otas, TGV’s, plataformas logísticas, refinarias que se sucedem vertiginosamente perante os nossos incrédulos olhos.

Infelizmente para Portugal a realidade é menos virtual e mais pungente do que o projectado em incontáveis “power-point” com que enchem as vistas à Comunicação Social. De todo o anunciado pouco ou nada se concretiza.

O crescimento económico e o desenvolvimento não se compadecem com voluntarismos, sobretudo se estes forem equiparáveis a cenários cinematográficos com magníficas fachadas mas vazios de conteúdo e inconsequentes.

Perante tal “Estado de Alma” desta nação apetece-me citar Shakespeare pela boca de Hamlet: “Something is rotten in the state of Denmark”.

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