domingo, 29 de setembro de 2019

Seamos realistas, pidamos lo imposible (??)



Esta famosa frase de Ernesto Guevara pode perfeitamente enquadrar os protestos ambientais que tiveram lugar um pouco por todo o lado. Foi a "Greve Mundial pelo Clima".

Esta foi, de resto, a frase mais escutada no Maio de 68 em Paris. Sempre que, agarrada a uma causa justa, há um movimento social, mais ou menos inorgânico, o princípio subjacente a esta frase parece mover as demonstrações e as pessoas.

O ativismo e a dinâmica social são positivos, todavia, a irracionalidade amiúde toma lugar e o "impossível" prevalece sobre o "realista". Em matéria ambiental, tal como, de resto, em muitas outras matérias, o reformismo é sempre preferível à revolução. Se, de modo irrealista, afetarmos a Economia então teremos problemas sociais graves que se sabe como começam mas nunca se sabe como acabam. A disrupção social conduz a becos sem saída e a civilização pode colapsar ou, pelo menos, titubear com graves consequências que, paradoxalmente,  são também elas ambientais e bem mais graves que as que atravessamos.

A prudência demonstra que os problemas devem ser atacados de modo gradualista com metas temporais e moratórias claras e bem definidas, que permitam combater as práticas ambientalmente prejudiciais. Não há outras formas de lidar com este assunto, por muito "sexy" e politicamente corretas que possam parecer as proclamações. Muito menos os voluntarismos bacocos e inqualificáveis como o do recente anúncio de banir a carne de vaca da ementa da cantina da Academia coimbrã conseguem os objetivos a que se propõem. Ao invés geram uma reação contrária e são de um ridículo confrangedor.

A frase deveria ser antes: "sejamos realistas e avançemos inexoravelmente através do possível", ainda que "Che" pudesse discordar. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Magalhães - Elcano "Fast Check"


Fernão de Magalhães partiu na sexta feira passada de há quinhentos anos atrás, 20 de Setembro do ano da graça de 1519 comandando uma armada constituída pelas carracas Trinidad (navio almirante), Concepción, San Antonio, Santiago e Victoria. O feito não é de somenos importância. Os dezoito sobreviventes da expedição, capitaneados após a morte de Magalhães, a 27 de abril de 1521, por Juan Sebastian Elcano, acabaram por regressar ao porto de partida (Sanlucar de Barrameda, na foz do Guadalquivir e daí a Sevilha, a montante naquele rio) em um único navio quase três anos depois completando a primeira circum-navegação à Terra.

Já muita tinta correu, e correrá por estes dias, sobre esta imortal expedição naval que, de modo acidental, ficou para a posteridade como uma das mais importantes, tal como as de Colombo, Gama ou Drake. Como a minha formação académica me impele para estas temas, o acervo escrito disponível e consultado permite-me responder satisfatoriamente a algumas questões, em nome da verdade possível e conhecida.

A primeira é precisamente porque digo "de modo acidental"? Porque a expedição tinha como objetivo completar aquilo que Colombo se tinha proposto anos antes, isto é, alcançar as terras das especiarias navegando para ocidente tendo deparado com uma imensa massa terrestre de permeio (continente americano). A viagem de Colombo esteve na base da definição do meridiano de Tordesilhas entre Espanha e Portugal deixando, a este último reino, toda a Rota das Índias e o acesso pleno ao monopólio das especiarias através do Cabo da Boa Esperança. Até à descoberta da passagem do Estreito de Magalhães entre o Atlântico e o Pacífico esta era a única forma (para além da milenar e inapropriada Rota da Seda) de se alcançar o Oriente.

Esse era, de facto, o objetivo a que Magalhães se comprometeu com o rei Carlos I de Espanha. A circum-navegação acabou por ser fruto das dramáticas circunstâncias que rodearam a viagem e que conheceram de tudo um pouco: tempestades, tentativas de motins, execuções, deserções, fomes, sedes e escorbutos, com a consequente elevada fatura elevada em mortes.

Magalhães, paradoxalmente, não termina a viagem porque morre em combate nas praias de Mactan, Filipinas, mas não deixa de ser o primeiro a circum-navegar. De facto, pela circunstância de ao serviço de D. Manuel I, rei de Portugal, já ter estado antes a oriente da longitude das Filipinas, mais precisamente na Molucas (objetivo da viagem em apreço) fez com que, em duas etapas, ele tenha completado uma circum-navegação.

De resto, a chegada às Filipinas e posteriormente às Molucas, vindo de ocidente revelou-se agridoce. Se, por um lado, representou o completar do objetivo, por outro, embora o cálculo de longitudes, à época, não fosse ainda fiável, podemos concluir (embora especulando) que Magalhães teve a perceção nítida que as ilhas Molucas (fonte do eldorado da noz-moscada e do cravo da Índia) estava dentro da área atribuída a Portugal no Tratado de Tordesilhas e, portanto, o compromisso firmado com Carlos I, nas "Capitulaciones de Valladolid" em 22 de março de 1518 (“… de descubrir en los términos que nos pertenecen y son nuestros en el mar océano, dentro de los límites de nuestra demarcación, yslas y tierras firmes, rricas espeçierías,…”) não poderia ser cumprido legalmente.

Sem embargo, os limites de Tordesilhas foram forçados amiúde por ambos os signatários, fosse no Ocidente, vejam-se os limites do Brasil, fosse no Oriente, com a colonização das Filipinas. Essa pode ser uma explicação para o ênfase de Magalhães em batizar e avassalar os nativos e em se intrometer na politica regional filipina ao afrontar militarmente Lapu-Lapu, datu de Mactan numa refrega quixotesca e irracional onde nem sequer pode usar a superioridade conferida pela artilharia naval contra, de resto, aquilo que estava claramente definido nas referidas "Capitulaciones": “…no descubrais ni hagais cosa en la demarcación e límites del Serenísimo Rey de Portugal…”

O seu único erro na expedição foi-lhe fatal, morrendo sem glória na praia. Coube assim a Elcano liderar o resto da expedição. Perante o desespero e o estado depauperado do que restava da expedição houve que tomar uma decisão racional de pura sobrevivência que, paradoxalmente, conferiu um lugar de destaque na História, fosse a Magalhães, fosse a Elcano: regressar a Espanha pelo Cabo, através de águas atribuídas a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, arriscando a deteção e arresto pelos Portugueses, não sem antes atestar o porão da carraca "Victoria", circunstância que permitiu, apesar de tudo, recuperar com lucro o forte investimento na armada efetuado.


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