quinta-feira, 14 de setembro de 2006

A Lição de Setúbal e o Mito do Autarca Comunista

In Setúbal after the resign of the former communist mayor the King is Naked

(publicado no Jornal online “Setúbal na Rede” em 13 de Setembro de 2006)

Importa nestas linhas reflectir sobre um dos episódios que ajudaram a que o Verão de 2006 ficasse para a História como uma “season” das menos “silly” de que temos memória.

Em Setúbal, o presidente da Câmara eleito democraticamente foi levado a demitir-se pelo partido em cujas listas se apresentou a sufrágio. Que nos recordemos foi a primeira vez que assistimos a algo semelhante pelo que a análise dos contornos da referida conjuntura constitui, sem duvida, um exercício interessante sobretudo agora que as águas já estão menos agitadas.

O enquadramento histórico recente da cidade e do município sadino revela-nos algo de curioso. Do ponto de vista económico - social Setúbal, no início dos anos 70, era uma das mais prósperas cidades portuguesas não tendo qualquer dúvida em a classificarmos como a terceira, em importância e desenvolvimento, logo após Lisboa e Porto.

Mais de trinta anos volvidos e mercê de sucessivos executivos autárquicos de triste memória a cidade afundou-se no panorama das urbes portuguesas. Se dúvidas existissem que se olhe no “clube” das capitais de distrito nacionais para Braga ou Aveiro, por exemplo.

Boa parte deste “handicap” autárquico deve-se à governação socialista de Mata Cáceres que teve o seu início em 1985 e que, depois de um capital de esperança num período em que se constituiu um “bloco central” com intuitos eleitorais, o PS levou de vencida a presidência da autarquia.

Porém em 2001 Mata Cáceres é estrondosamente derrotado por Carlos Sousa e pela CDU que arrecadam a presidência do município com a maioria absoluta.

Estes dezasseis anos de governação socialista à frente da CMS ficarão, para os anais da história autárquica nacional, porventura, como os mais ruinosos de que haverá memória no Portugal democrático.

Não foi, pois, de admirar a maioria absoluta de Carlos Sousa!

A palavra de ordem, em 2001, foi a de vencer a estagnação e fazer a cidade progredir. Só isso explica a vitória clamorosa de Sousa já que a base eleitoral da CDU ficava muito aquém do score obtido. O voto útil funcionou em pleno e desde os independentes, passando pelos social-democratas e até alguns socialistas, todos ajudaram a eleger Sousa ou, se quisermos a derrotar Mata Cáceres.

Carlos Sousa, anterior presidente da Câmara de Palmela foi, deste modo, fiel depositário das gentes do Sado a quem entristecia ver a sua cidade definhar e ansiavam por retomar o prestígio e a grandiosidade de outrora.

A situação económica da autarquia era de tal modo grave que impôs a negociação de um “Pacto de Reequilibrio Financeiro” com o Governo e perante o qual o município reconhecia as suas dificuldades de tesouraria e permitia um recurso a um empréstimo bancário de 24 milhões de euros mas que, simultaneamente, impunha determinados deveres, entre o qual a racionalização dos métodos de gestão e a reestruturação do quadro de pessoal através da redução do número total de trabalhadores em 10% situação que não se verificou tendo, inclusive, aumentado as despesas com o pessoal.

A esperança transformou-se em desilusão e só a boa imagem de Sousa evitou a derrota autárquica em 2005.

Posteriormente um escândalo com um caso de reformas compulsivas, alegadamente fraudulento e cuja investigação pelo IGAT ainda não terminou, parece ser a razão profunda da demissão de Sousa provocada pelo PCP.

Ninguém, no seu prefeito juízo acredita que o “autarca modelo” se tenha tornado, nos termos da retórica do comunicado da concelhia comunista em alguém a quem o PCP tenha efectuado uma “análise pouco favorável do trabalho autárquico”. Parece ainda mais paradoxal que um partido que tem horror à palavra “renovação” venha igualmente alegar que é necessário “renovar energias, rejuvenescer e reforçar a equipa para melhor enfrentar os desafios”.

Pelo mesmo prisma quantos dos actuais autarcas comunistas do distrito não precisariam de ser “renovados” e “rejuvenescidos”?

Resta saber agora se a nova presidente tem condições para exercer o cargo, uma vez que toma posse já fragilizada para mais quando o executivo é minoritário.

Depois de tantos anos a vender a retórica de “trabalho, honestidade e competência” eis que, da forma mais estrondosa possível, caí o mito do autarca comunista daquele cujo compromisso afinal é com o partido e não com os eleitores.

PS: Recomenda-se ao webmaster do site do PCP que substitua a fotografia de Carlos Sousa na galeria dos presidentes do distrito de Setúbal.

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